Cuidado na hora de comprar imóveis em Florianópolis
- igrpersonal
- 7 de jun. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 29 de ago.

Balanço Geral Florianópolis
Revisado
Integra da Reportagem / Entenda este Caso
Rodrigo, Valmir e Andreia são apenas alguns dos muitos que afirmam ter sido enganados. Todos os apartamentos neste prédio estão envolvidos.
A obra, que deveria ter sido concluída, parou completamente.
O que exatamente aconteceu? Um dos compradores relata que adquiriu o apartamento com promessa de entrega em dezembro.
Quando esse mês chegou, os atrasos começaram. Como ele trabalhava em uma loja de materiais de construção, começou a controlar o que era vendido para a obra.
Notou uma diminuição no fluxo de compras, até que, em janeiro, os responsáveis simplesmente deixaram de aparecer.
Documentos comprovam pagamentos: um dos compradores mostra a quitação de R$ 110 mil, parte em cheques.
Um deles, de R$ 44 mil, tem cópia. Parte do pagamento foi feita com veículos — um dos carros foi localizado, mas o outro, não."Esse aqui foi um dos carros", mostra o comprador.
O outro já teve a documentação transferida. O advogado dele está entrando com recurso de busca e apreensão. "O carro tá rodando por aí, nos Ingleses", diz.
O carro localizado estava com o corretor que vendeu o apartamento diretamente a ele. Como ele não havia passado a documentação, preferiu esperar o término da obra.
Com o problema instaurado, procurou o corretor, que admitiu ter comprado o carro diretamente de Diego — apontado como o construtor — e devolveu o veículo, apesar de não haver documentos formais.
Mas o problema vai além de uma obra parada. Há apartamentos vendidos para três, quatro, até seis ou oito pessoas diferentes. "Isso está sendo investigado", afirma uma das vítimas.
O que era sonho virou pesadelo. O prédio, que já deveria estar pronto, é hoje apenas um esqueleto abandonado.
Os apartamentos variavam entre R$ 100 mil e R$ 240 mil. São 17 unidades no total: três no térreo, seis no primeiro andar, mais seis no segundo e as coberturas. Até agora, 42 pessoas comprovaram ter feito algum tipo de negócio envolvendo essas unidades. Os imóveis têm cerca de 80 m², dois quartos, dois banheiros, sala e cozinha.
O prejuízo já é considerado milionário. Sandro, um dos compradores, conta que se interessou pelo apartamento após ver a planta e o projeto na imobiliária JJ.
A empresa garantiu que o construtor já havia entregue três outros empreendimentos. Com essa confiança, ele iniciou a negociação diretamente com a imobiliária.
O pagamento começou já no dia seguinte: uma parte foi paga à vista, outra no mês seguinte, e o restante seria pago na entrega das chaves. Ele estima uma perda de aproximadamente R$ 50 mil — mais da metade do valor total do imóvel.Andreia, outra vítima, apresenta um documento que complica ainda mais a situação: comprou o imóvel em outubro de 2015, mesmo com a obra já embargada pela Prefeitura.
O documento mostra várias infrações, incluindo início de obra sem alvará e desacato ao embargo municipal.
A reportagem mostra o interior do prédio.
Um dos apartamentos já tem parte do acabamento: paredes com gesso, espaço de sala de jantar integrado à cozinha, varanda, banheiros e quartos com encanamento e divisórias.
No entanto, todos os andares estão na mesma situação: a obra foi completamente paralisada. Nenhum funcionário está presente no local.
O nome citado por todas as vítimas é Diego Rodrigues Vieira Veras — que aparece nos contratos como construtor.
A polícia já ouviu mais de 40 pessoas, incluindo donos de imobiliárias que também afirmam terem sido lesados.Um corretor declara: "A gente foi enganado tanto quanto os compradores. Nas outras obras, ele entregou.
Mas começou a atrasar muito. Um grupo de proprietários foi formado para discutir ações judiciais, e foi aí que descobrimos que havia venda duplicada de unidades, algo que ninguém imaginava. "Dona Gladys é uma das vítimas mais emocionadas.
Viúva, foi levada pelo filho para tentar um novo começo.
Todo o dinheiro que tinha, além do carro, foi investido no apartamento. "Era a minha casa, minha vida. Trabalhei tanto por isso… agora tudo isso aconteceu com a gente." Desiludida, ela afirma: "Só nos resta recomeçar, com a força de Deus.
Mas o problema não se limita a esse prédio. A reportagem acompanha uma outra vítima até um novo empreendimento, a menos de dois quilômetros do primeiro. O prédio tem a mesma configuração — 17 apartamentos — e relatos semelhantes de vendas múltiplas e prejuízos.
Essa placa de interdição da Prefeitura de Florianópolis não estava aqui antes, afirma um morador. Ela só apareceu de janeiro pra cá.
A obra já estava parada desde 2015, segundo documentos.
Ao questionar os responsáveis, receberam apenas o contato de um advogado, passado por Danilo — cunhado de Diego e suposto sócio. Mesmo com a placa de interdição, as negociações continuaram.
Um comprador afirma ter negociado cinco apartamentos e uma garagem em troca de dois terrenos. Mas os apartamentos que seriam dele também foram revendidos.
A polícia ainda não sabe o paradeiro dos construtores.
Enquanto isso, compradores divulgaram na internet fotos dos supostos envolvidos. Calcula-se que o número de vítimas possa ultrapassar 130 pessoas. Três construções diferentes estão sendo investigadas, todas ligadas ao mesmo grupo.
Análise do caso efetuado por nosso escritório
O Sonho Que Virou Pesadelo: Como Um Golpe Imobiliário Deixou Mais de 130 Pessoas no Prejuízo
A aquisição da casa própria é um dos maiores sonhos do brasileiro. Representa não apenas estabilidade, mas conquista, segurança, e, muitas vezes, o resultado de anos – ou mesmo décadas – de trabalho duro, economia e renúncia. Por isso, não há como medir o tamanho da frustração e da dor vivida por dezenas de famílias que investiram em um empreendimento imobiliário na região dos Ingleses, em Florianópolis, e se viram envolvidas em um verdadeiro pesadelo.
Mais de 130 pessoas afirmam terem sido vítimas de um suposto golpe, liderado por um construtor identificado como Diego Rodrigues Vieira Veras. Prometendo apartamentos modernos e bem localizados, o empreendimento foi vendido por valores que variavam entre R$ 100 mil e R$ 240 mil. O projeto inicial previa 17 apartamentos — mas 42 compradores afirmam ter realizado transações no mesmo prédio. Em outro empreendimento semelhante, a menos de dois quilômetros de distância, mais vítimas surgem. E as investigações ainda estão longe de terminar.
Como Chegamos Aqui: As Motivações Por Trás do Golpe
A motivação principal de quem aplica esse tipo de golpe é simples: dinheiro fácil. Usando a credibilidade construída em obras anteriores (que, ao que tudo indica, foram de fato entregues), o construtor conseguiu atrair novos clientes com promessas de mais um empreendimento seguro e rentável. A reputação, neste caso, foi usada como uma ferramenta de manipulação.
Além disso, o contexto imobiliário local ajudou. Florianópolis vive, há anos, uma valorização constante do mercado de imóveis, especialmente nas regiões turísticas como os Ingleses. Isso gera um apetite natural por bons negócios. Muitos compradores veem nesses empreendimentos uma oportunidade não apenas de moradia, mas também de investimento — e esse é um terreno fértil para golpistas.
O golpe também foi sofisticado: os contratos estavam formalizados, algumas unidades até chegaram a iniciar o acabamento, parte dos compradores recebeu chaves simbólicas e carros foram aceitos como forma de pagamento. Tudo isso passou a impressão de legitimidade. Enquanto isso, novas vendas continuavam a ser realizadas — inclusive de imóveis já comercializados anteriormente.
As motivações do construtor e seus supostos sócios se basearam em um esquema que, até então, vinha funcionando: vender várias vezes o mesmo imóvel, desaparecer com o dinheiro e deixar os compradores lidando com os prejuízos, a burocracia e a dor de cabeça judicial.
As Falhas das Vítimas: Quando a Confiança se Torna Vulnerabilidade
Embora as vítimas sejam, de fato, vítimas de um golpe premeditado e cruel, é preciso reconhecer que alguns erros contribuíram para o agravamento da situação.
A primeira falha comum foi a falta de verificação documental aprofundada. Muitos compradores admitiram que confiaram no histórico do construtor, na palavra de corretores e nas aparências. Poucos buscaram verificar, de forma autônoma e rigorosa, se o empreendimento possuía alvará de construção, licenciamento ambiental e registro de incorporação na matrícula do imóvel — documentos indispensáveis antes de qualquer transação.
Outro erro foi a formalização de contratos sem análise jurídica. Algumas pessoas assinaram documentos de gaveta, ou contratos de compra e venda sem a chancela de um advogado especializado em direito imobiliário. Outras firmaram acordos diretamente com o construtor ou corretor, sem envolver uma instituição financeira ou cartório para registro público.
Houve também um grau de desinformação coletiva. Diversos compradores não mantinham contato com os demais, e, mesmo diante de atrasos evidentes nas obras, continuaram fazendo pagamentos e acreditando nas justificativas apresentadas. A comunicação entre as vítimas só começou de fato quando o golpe já estava em curso.
Por fim, a confiança excessiva em corretores e imobiliárias sem exigir garantias formais e registros públicos também foi um equívoco. Em casos como esse, o profissional responsável pela intermediação deve, obrigatoriamente, alertar o comprador sobre riscos documentais e legais.
O Que Deveria Ter Sido Feito: Medidas Preventivas Que Evitariam o Golpe
A prevenção de golpes imobiliários passa, antes de tudo, por informação e cautela. Há uma série de medidas que, se tivessem sido adotadas por pelo menos parte das vítimas, poderiam ter evitado ou, ao menos, minimizado o prejuízo coletivo.
A principal delas é verificar se o empreendimento está registrado no cartório de imóveis, com matrícula individualizada para cada unidade. Sem esse registro, é ilegal comercializar imóveis na planta — e essa é uma das primeiras bandeiras vermelhas em qualquer negócio.
Outro ponto fundamental é a exigência de alvará de construção emitido pela prefeitura. No caso em questão, houve diversas autuações por início de obra sem autorização e desacato ao embargo. Esses dados estavam disponíveis publicamente — bastaria uma consulta na Secretaria Municipal de Urbanismo ou na própria prefeitura.
Além disso, é essencial que toda transação seja acompanhada por um advogado especializado em direito imobiliário. Profissionais com experiência na área saberiam identificar a ausência de documentos essenciais, cláusulas abusivas ou mesmo irregularidades no contrato de compra e venda.
Os compradores também deveriam exigir que os pagamentos fossem intermediados por uma instituição financeira, com liberação dos valores atrelada ao andamento da obra. Esse é um modelo comum em financiamentos bancários, justamente para proteger o comprador em caso de inadimplência ou paralisação do projeto.
Outro fator preventivo seria a criação de associações de compradores ou grupos de fiscalização coletiva. Em vez de esperar a entrega do imóvel, os futuros moradores poderiam se organizar desde o início, acompanhar as etapas da obra, exigir transparência do construtor e dividir informações sobre o andamento do projeto.
Um Alerta Para o Futuro
Infelizmente, golpes como este não são isolados. Eles se repetem em diferentes estados, com variações de método, mas sempre explorando o mesmo ponto fraco: a vontade legítima do brasileiro de ter um lar. Por isso, o caso ocorrido nos Ingleses deve servir como alerta e lição.
A dor das vítimas é inquestionável. Pessoas que venderam carros, investiram suas economias, assinaram contratos de boa-fé e, em alguns casos, perderam tudo. Como Dona Gladys, uma viúva que viu no apartamento a chance de recomeçar, ao lado do filho e do neto. Agora, vive com o pouco que restou e a esperança de justiça.
Mais do que indenização financeira — que pode nunca acontecer, dada a dificuldade em localizar os envolvidos e os recursos —, o que se busca é responsabilização penal. A polícia investiga a atuação de Diego e seus supostos sócios, que até agora estão foragidos. Também há possibilidade de responsabilização civil das imobiliárias e corretores envolvidos, caso se comprove negligência ou conivência.
Enquanto isso, fica a lição: no Brasil, comprar um imóvel ainda é um ato que exige muito mais do que sonho. É preciso vigilância, preparo, e, acima de tudo, consciência jurídica. Porque o que começa com a promessa de um lar pode terminar em um buraco sem fundo — financeiro e emocional.




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