- igrpersonal
- 7 de jun. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 4 de out.
Embedding 4/Out/ 25
Refeito em 3/Set/25
Síntese da notícia
Em Batatais, um grupo de pelo menos 25 pessoas afirma ter caído em um golpe aplicado por uma suposta corretora de imóveis.
Os casos já foram registrados na polícia, e o prejuízo estimado pode chegar a R$ 70 mil. O que seria a realização do sonho da casa própria acabou se transformando em um grande pesadelo.Uma das vítimas é uma pensionista de 58 anos. Todo o dinheiro que ela havia conseguido juntar com sacrifício ao longo da vida foi parar nas mãos da golpista.
Segundo contou, o casal que se apresentou como corretores mostrou a ela uma casa que estaria à venda e garantiu que, além de conseguir o imóvel, ela ainda teria um ganho de R$ 25 mil.
Convencida pela promessa, repassou R$ 70 mil, mas acabou ficando sem a casa e sem o dinheiro. Outro caso é o de um gerente de vendas, que perdeu R$ 11 mil acreditando que o valor seria usado para a documentação de um terreno em um loteamento.
A suposta corretora chegou a enviar áudios, afirmando que já havia dado entrada nos documentos junto ao banco e que em poucos dias a matrícula seria liberada. No entanto, tais documentos nunca existiram.
O homem só descobriu o golpe ao procurar a empresa responsável pelo loteamento e ser informado de que o terreno já tinha proprietário legítimo.
Revoltado, ele tentou confrontar a golpista, mas recebeu ameaças. Nos áudios, a mulher dizia que ele teria problemas ainda maiores, que ela tinha experiência na área e que não teria “dó nem da mãe dele”.
Em alguns casos, o parceiro da suspeita chegou a ir até a casa das vítimas pedindo que retirassem os boletins de ocorrência. Para dar mais credibilidade, a mulher levava os interessados até um loteamento com casas em construção e terrenos à venda, reforçando a ideia de que o negócio era legítimo.
Assim, convencia as pessoas a depositarem valores de entrada. Foi o que aconteceu com um marceneiro, que entregou R$ 25 mil acreditando que teria sua casa própria. Ao perceber que havia sido enganado, ligou para a golpista e ouviu dela que já não sabia onde estava o dinheiro, alegando que havia repassado para terceiros.
Segundo informações, mais de 25 pessoas já registraram ocorrência na delegacia de Batatais. As vítimas relatam que os golpes começaram há pelo menos dois anos e que, até hoje, nada foi feito. A suposta corretora continua em liberdade e, de acordo com relatos, segue aplicando novos golpes.
“Não tem para quem pedir ajuda, só para Deus”, disse uma das vítimas, desanimada com a falta de resposta das autoridades. Muitos afirmam já não ter esperança de recuperar o dinheiro, mas pedem que a polícia aja para que a mulher seja impedida de enganar outras pessoas.
O caso foi levado ao conhecimento público por meio de denúncia em programa de televisão, que também cobrou posicionamento da polícia local. Até o momento, nenhum delegado ou investigador de Batatais se pronunciou oficialmente sobre a investigação. Enquanto isso, dezenas de famílias continuam aguardando justiça, após terem perdido as economias de uma vida inteira acreditando no sonho da casa própria.
Avaliação e análise de nosso escritório
O golpe imobiliário em Batatais: motivações, falhas e como evitar tragédias semelhantes
O sonho da casa própria é, sem dúvida, um dos maiores objetivos de boa parte dos brasileiros. Ter um imóvel em seu nome representa não apenas segurança patrimonial, mas também a sensação de estabilidade familiar e realização pessoal. No entanto, justamente por carregar tamanha carga simbólica e emocional, esse sonho acaba se tornando também uma das maiores vulnerabilidades quando encontra pela frente pessoas mal-intencionadas.
Foi o que aconteceu em Batatais, interior de São Paulo, onde dezenas de famílias caíram em um golpe aplicado por uma suposta corretora de imóveis. Estima-se que mais de 25 pessoas tenham sido lesadas, com prejuízos que ultrapassam os R$ 70 mil. Esse caso, embora chocante, não é isolado. Ele expõe um conjunto de falhas, fragilidades e, ao mesmo tempo, levanta importantes reflexões sobre como prevenir situações semelhantes no futuro.
Neste artigo, vamos analisar os três aspectos centrais dessa história:
As motivações e implicações que deram origem ao golpe.
As falhas das vítimas, compreensíveis, mas que contribuíram para a concretização da fraude.
O que deveria ter sido feito para evitar esse desfecho e quais medidas podem ser adotadas para que casos parecidos não voltem a acontecer.
1. As motivações e implicações do golpe
A primeira pergunta que surge diante de um caso como esse é: o que motiva alguém a enganar dezenas de famílias que buscavam apenas realizar o sonho de ter sua casa própria?
A resposta, embora pareça óbvia, é complexa. Em linhas gerais, a motivação central é o ganho financeiro ilícito. Mas não se trata apenas de dinheiro. Golpistas desse tipo operam com base em três pilares principais:
A vulnerabilidade emocional das vítimas: os golpistas sabem que a casa própria é um sonho carregado de esperança e, muitas vezes, pressa. Esse aspecto emocional facilita o convencimento.
A falta de informação técnica: muitas pessoas não dominam os procedimentos legais de compra e venda de imóveis, o que abre espaço para falsas promessas e histórias convincentes.
A confiança na aparência de legitimidade: ao levar as vítimas até loteamentos reais e mencionar documentos supostamente em andamento, os golpistas criam uma sensação de autenticidade que neutraliza desconfianças iniciais.
As implicações desse tipo de crime são devastadoras. Em primeiro lugar, há a perda financeira, que em muitos casos representa as economias de toda uma vida. Depois, o abalo psicológico: vergonha, sentimento de impotência e a dolorosa sensação de ter sido enganado. Por fim, a descrença nas instituições. Quando a polícia demora a dar respostas e a justiça parece ineficiente, o cidadão perde a confiança no sistema, o que fragiliza ainda mais o tecido social.
2. As falhas cometidas pelas vítimas
É importante ressaltar que a responsabilidade maior recai, obviamente, sobre quem cometeu o golpe. No entanto, compreender as falhas das vítimas ajuda a aprender com a experiência e evitar novos casos.
a) Ausência de verificação documental
Um erro recorrente foi não conferir a matrícula do imóvel diretamente no cartório de registro de imóveis. Esse documento é o único que comprova a existência do terreno e a quem ele realmente pertence. No caso de Batatais, bastaria uma consulta simples para verificar que muitos dos terrenos já tinham proprietários legítimos.
b) Confiança excessiva em promessas irreais
A promessa de ganhar dinheiro com a transação, como no caso da pensionista que acreditou que teria R$ 25 mil de retorno além da casa, deveria ter sido um alerta. Em negociações imobiliárias sérias, não existem ganhos imediatos e sem explicação lógica.
c) Entrega de grandes quantias em dinheiro sem contrato formal
Outra falha foi realizar depósitos expressivos em contas particulares sem a intermediação de uma instituição financeira ou de um contrato devidamente registrado. A pressa em fechar negócio acabou se sobrepondo à cautela.
d) Falta de apoio jurídico ou especializado
Nenhuma das vítimas relatou ter consultado um advogado ou corretor devidamente registrado no CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis). Essa consulta, que poderia parecer inicialmente um custo extra, teria evitado prejuízos muito maiores.
3. O que poderia ter sido feito para evitar os acontecimentos
Diante dessas falhas, o que poderia ter sido feito para evitar que tantas pessoas caíssem no golpe? Algumas medidas simples, mas poderosas, podem servir como lição.
a) Verificação da matrícula no cartório
O cartório de registro de imóveis é a fonte oficial de informação sobre qualquer propriedade. Antes de assinar qualquer contrato ou fazer qualquer pagamento, é essencial solicitar uma certidão de matrícula atualizada. Esse documento mostra quem é o proprietário legal, se há dívidas vinculadas ao imóvel e se ele pode ou não ser vendido.
b) Consulta ao CRECI
Todo corretor de imóveis deve ter registro no CRECI. Uma pesquisa rápida no site do conselho já mostraria se a suposta corretora tinha ou não autorização para atuar. Essa checagem simples é um filtro que evita muitos golpes.
c) Formalização de contratos
Qualquer negociação deve ser acompanhada de um contrato assinado pelas partes, com reconhecimento de firma e, de preferência, assessoria jurídica. Além disso, pagamentos de grandes valores devem ser feitos apenas por meios rastreáveis e vinculados ao negócio, nunca diretamente em contas pessoais sem justificativa.
d) Atenção a promessas irreais
O velho ditado continua válido: quando a proposta parece boa demais para ser verdade, provavelmente não é. Ganhos fáceis, descontos fora do comum ou promessas de vantagens financeiras extras são sempre sinais de alerta.
e) Educação financeira e jurídica
A longo prazo, é fundamental investir em educação. Conhecer minimamente os trâmites de compra de um imóvel — como escritura, registro, certidões e contratos — é essencial para não ser enganado.
Conclusão: um alerta que vai além de Batatais
O caso de Batatais é mais do que uma história isolada de golpe. Ele representa uma realidade que pode acontecer em qualquer lugar do Brasil, especialmente em um país onde a casa própria é o grande sonho nacional.
As motivações dos golpistas foram claras: explorar a esperança e a confiança das pessoas. As falhas das vítimas, compreensíveis diante da pressão emocional e da aparente legitimidade da corretora, ajudaram a criar o ambiente propício para a fraude. Mas o aprendizado é igualmente evidente: informação, cautela e procedimentos corretos são as melhores armas contra esse tipo de crime.
Mais do que recuperar o dinheiro perdido, o grande desafio agora é recuperar a confiança — tanto das vítimas quanto da sociedade em relação às instituições que deveriam protegê-las. Casos como esse reforçam a necessidade de um olhar mais atento das autoridades e de uma postura mais crítica da população diante de promessas sedutoras.
No fim das contas, o sonho da casa própria continua legítimo e possível. Mas ele só pode ser alcançado de forma segura quando construído sobre bases sólidas: informação, prudência e respeito aos trâmites legais.

